Dor e Incredulidade Marcam o Sepultamento de Família Vítima de Feminicídio e Infanticídio no Recife
A comunidade de Icauã, localizada em Caxangá, Zona Oeste do Recife, foi palco de uma tragédia devastadora que chocou a todos. Na tarde desta segunda-feira (1º), um clima de profunda dor e revolta tomou conta do Cemitério da Várzea, onde foram sepultados Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e seus quatro filhos: Aline, de 7 anos; Adriel, de 4; Agnaldo, de 3; e Ariel, de apenas 1 ano. As cinco vidas foram brutalmente ceifadas em um incêndio criminoso ocorrido no último sábado (29), que também destruiu cerca de 20 casas da ocupação.
O crime hediondo foi atribuído a Agnaldo José Alves, conhecido como Guel, companheiro de Isabele e pai das crianças. Segundo relatos, ele teria trancado a casa e ateado fogo, carbonizando a família. A avó das crianças, em prantos, lamentava a perda irreparável, expressando a dor de uma comunidade desestruturada por tal barbárie.
Um Grito por Justiça: Violência Doméstica no Centro da Tragédia
“Aqui não está sendo enterrado filho de nenhuma autoridade. É uma mulher, uma mãe, uma irmã, uma prima que está deixando para trás uma família sofrida. A gente está sofrendo muito, porque as autoridades não tomaram nenhuma providência. Uma mulher sozinha, com quatro crianças, vivendo violência doméstica. É uma família enlutada, sofrendo, chorando, pedindo a Deus por justiça. Que seja feita justiça, para que nenhuma mulher passe pelo que a gente está passando hoje. Porque está doendo, e não é pouco, é muito. É uma mulher que precisa ser ouvida. Que a morte dela represente outras que sofrem violência caladas, sem coragem de gritar e dizer o quanto dói ser vítima.”
As palavras emocionadas de Silvania Gomes, prima de Isabele, ecoaram no cemitério, denunciando a violência doméstica que a vítima enfrentava e a falta de apoio. Moradores da comunidade confirmaram que Isabele sofria com o relacionamento abusivo, e, dias antes do crime, havia revelado estar grávida de dois meses. A família implorava para que Isabele deixasse o companheiro, que praticava abusos recorrentes sob efeito de álcool. Vizinhos relataram ter ouvido Guel proferir ameaças à esposa horas antes do incêndio, dizendo: “Hoje tu morre, desgraçada”.
A Resposta das Autoridades e a Fúria Popular
O incêndio, que começou por volta das 12h30 do sábado (29), se espalhou rapidamente pelos barracos de madeira da comunidade Icauã. O Corpo de Bombeiros mobilizou oito viaturas e 26 militares para combater as chamas, que foram controladas após mais de quatro horas de trabalho. Imagens e vídeos feitos por moradores registraram o desespero e a rápida propagação do fogo.
O suspeito, Agnaldo José Alves, foi detido em flagrante pela Polícia Militar após ser agredido por moradores revoltados. Ele foi encaminhado a um hospital sob custódia e, posteriormente, teve sua prisão preventiva decretada, sendo levado para o Centro de Observação e Triagem Evarardo Luna (Cotel).
A tragédia do Recife lança luz sobre a urgência de políticas eficazes de combate à violência doméstica e de apoio às vítimas, garantindo que o grito de justiça por Isabele e seus filhos não seja em vão.
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